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Violência contra mulheres e crianças: entrevista com a Delegada Danielle Alves Ribeiro

Titular da Delegacia de Polícia Civil de Além Paraíba, Dra. Danielle Alves Ribeiro fala sobre prevenção, acolhimento, enfrentamento à violência e a importância da denúncia

28/05/2025 às 13h16 Atualizada em 29/05/2025 às 14h58
Por: Redação
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Violência contra mulheres e crianças: entrevista com a Delegada Danielle Alves Ribeiro

Na tarde do dia 17 de maio, o Jornal AGORA realizou uma entrevista exclusiva com a Delegada Dra. Danielle Alves Ribeiro, que desde o segundo semestre de 2023 atua na 28ª Delegacia de Polícia Civil de Além Paraíba. Primeira mulher a assumir esse posto na história do município e natural da cidade, Dra. Danielle retornou após 23 anos trazendo vasta experiência na área de Direito Penal, Violência Doméstica e Atendimento à Mulher.

Em conversa franca, conduzida pelo repórter Thiago Filgueiras, a delegada falou sobre os desafios da criminalidade local, o trabalho preventivo da Polícia Civil e a importância da educação e da denúncia para proteger mulheres, crianças e adolescentes. Dra. Danielle reforça ainda a necessidade de parcerias entre instituições para fortalecer as ações de combate à violência e fomentar uma rede de proteção na cidade.

Jornal AGORA: Delegada, neste Maio Laranja, mês de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, quais têm sido as ações da Polícia Civil em Além Paraíba e qual a importância da mobilização da sociedade nesse tema?

Delegada Danielle: Durante o mês de maio, a Polícia Civil de Minas Gerais, por meio da Delegacia de Além Paraíba, está engajada na operação Caminhos Seguros, que visa o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.
A operação envolve um conjunto de ações integradas: desde prisões e cumprimento de mandados até investigações em andamento e abordagens em campo. Também estamos promovendo atividades de cunho preventivo, como palestras em escolas, campanhas educativas e orientações à população em geral.
Nosso objetivo é prevenir esse tipo de crime, conscientizar a sociedade sobre a gravidade dessas condutas e, ao mesmo tempo, estimular a prática da denúncia, que é essencial para que possamos tomar conhecimento dos fatos e agir com a devida resposta criminal.


Jornal AGORA: Tivemos recentemente um caso de grande repercussão envolvendo suspeita de pedofilia em nossa cidade, ligado ao filho de uma família proprietária de creche. O que a senhora pode nos dizer sobre essa investigação?

Delegada Danielle: Realmente tivemos uma operação em Além Paraíba que resultou no cumprimento de mandado de busca e apreensão e na prisão em flagrante de uma pessoa.
Por se tratar de um caso que envolve crianças, não podemos divulgar detalhes, em respeito ao sigilo legal e à proteção das vítimas. O que posso assegurar é que o flagrante foi devidamente formalizado e encaminhado ao Fórum para os trâmites legais cabíveis. Toda a ação foi concluída dentro do prazo legal, com responsabilidade e respeito ao devido processo.


Jornal AGORA: Em relação ao atendimento às vítimas, Além Paraíba conta com estrutura especializada como escuta protegida ou acompanhamento psicossocial? E como funciona a articulação da delegacia com órgãos como o Conselho Tutelar e o Ministério Público?

Delegada Danielle: A articulação com o Ministério Público e o Conselho Tutelar é muito positiva. Temos uma rede de apoio bem estruturada e atuamos de forma integrada, especialmente nos casos que envolvem crianças e adolescentes.
Atualmente, não contamos com uma estrutura de escuta especializada na Delegacia. O depoimento especial e a escuta protegida não são realizados aqui por falta de espaço adequado para um atendimento psicológico ou psicossocial.
No entanto, todo acolhimento feito na delegacia é realizado com respeito, seriedade e sensibilidade, garantindo dignidade às vítimas e suas famílias.


Jornal AGORA: A senhora é bastante ativa nas redes sociais e frequentemente compartilha conteúdos sobre conscientização do autismo. Como a Polícia Civil tem se adaptado para oferecer um atendimento mais humanizado a pessoas com TEA?

Delegada Danielle: Tenho uma atuação ativa nas redes sociais porque acredito que é fundamental compartilhar conhecimento. Sou professora, mestre em Direito Penal e mãe de um menino de 8 anos que está dentro do espectro autista.
Compartilho informações relevantes e defendo com firmeza a importância de um atendimento humanizado nas delegacias, respeitando as necessidades específicas de cada indivíduo.
Infelizmente, ainda não temos, de forma geral, um preparo adequado para lidar com as demandas de pessoas com autismo, tanto na Polícia Civil quanto na Militar. Mas alguns estados já estão promovendo cursos de capacitação, o que é extremamente necessário nos dias atuais.


Jornal AGORA: O projeto da Casa da Mulher em Além Paraíba está caminhando? A estrutura será realmente instalada no prédio do antigo Fórum?

Delegada Danielle: Sim, será no prédio do antigo Fórum, onde atualmente funciona o Ministério Público. O projeto está caminhando e a estrutura será compartilhada, mas com áreas separadas.
Essa nova unidade atenderá não apenas mulheres, mas também vítimas de crimes sexuais e outras pessoas em situação de vulnerabilidade.
Será um espaço mais acolhedor e integrado, com assistência social, Defensoria Pública, atendimento psicológico, escuta especializada e um setor exclusivo para atendimento às mulheres.
A sociedade tem muito a ganhar com essa mudança. Estamos contando com o apoio da sociedade civil, da Prefeitura, da Câmara, do Rotary, Lions, Sindicato, OAB, Defensoria Pública, Ministério Público e da Rede Mulher. Cada serviço terá entrada e estrutura distintas, garantindo o acolhimento adequado a quem mais precisa.


Jornal AGORA: A delegacia de Além Paraíba passará por mudança de sede? Já há previsão para isso?

Delegada Danielle: Sim. Fizemos uma parceria com o Ministério Público e, em breve, a Delegacia de Polícia Civil passará a funcionar na parte superior do prédio do MP. Na parte inferior, será instalada a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.
Ainda estamos nas etapas burocráticas de autorização e viabilização pelas instituições envolvidas. Como a estrutura do prédio é muito boa, estimamos cerca de três meses de intervenções físicas. Nossa expectativa é que tudo esteja pronto até o final do ano, mas sabemos que obras envolvem imprevistos.


Jornal AGORA: Qual a diferença entre uma Casa da Mulher e uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM)?

Delegada Danielle: A Delegacia da Mulher é uma unidade policial voltada para a prevenção e investigação de crimes relacionados à violência contra a mulher. Já a Casa da Mulher oferecerá um atendimento mais completo e humanizado, com suporte social, jurídico e psicológico.
Não se trata de um abrigo 24h, mas sim de uma estrutura com diversos serviços integrados. Nosso objetivo é promover acolhimento, proteção e autonomia às mulheres em situação de vulnerabilidade.


Jornal AGORA: Há quem confunda a Casa da Mulher com a Delegacia Especializada. Quem pode ser atendido nesse novo espaço?

Delegada Danielle: Essa confusão é comum. A Casa da Mulher será um espaço de acolhimento e atendimento especializado para todas as pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente em casos de violência doméstica e sexual.
Isso inclui mulheres, mas também homossexuais, transexuais, crianças, adolescentes e outros familiares como netos ou sobrinhos. Quando falamos de violência doméstica, estamos falando de todas as formas de violência que ocorrem no ambiente familiar.
Portanto, o espaço será um local de acolhimento e cuidado, com um olhar humanizado e especializado.


Jornal AGORA: Houve aumento nos registros de violência contra a mulher em Além Paraíba nos últimos meses?

Delegada Danielle: Sim, os números de atendimentos e registros têm aumentado, o que consideramos um reflexo do trabalho de conscientização, divulgação e informação.
As pessoas estão procurando mais a delegacia e registrando boletins de ocorrência, inclusive em crimes sexuais. No momento, ainda estamos organizando esses dados de forma detalhada.


Jornal AGORA: Podemos contar com seu apoio para uma matéria especial com esses dados?

Delegada Danielle: Sim, com certeza. Posso ajudar a repassar as informações e levantar os números com precisão para que o Jornal AGORA possa produzir uma matéria especial de conscientização. Estou à disposição.


Jornal AGORA: Como a senhora avalia o avanço da rede de proteção à mulher em Além Paraíba?

Delegada Danielle: Há um avanço significativo. A Rede Mulher tem trabalhado com empenho para oferecer um atendimento mais efetivo e humano. Inclusive, temos voluntários dedicados a essa causa.
Os canais de denúncia têm melhorado, mas ainda enfrentamos muito silêncio. Muitas mulheres sofrem caladas, mas os registros de ocorrências têm aumentado. Isso também se reflete em outras cidades da nossa regional, como Santo Antônio do Aventureiro.


Jornal AGORA: Quais os principais desafios enfrentados pela equipe da delegacia nos casos de violência doméstica? E o que tem sido feito para agilizar os atendimentos?

Delegada Danielle: Um dos principais desafios é justamente a estrutura física limitada e a demanda crescente.
Apesar disso, os inquéritos relacionados à violência doméstica, especialmente os que envolvem mulheres, crianças e adolescentes, têm tramitado com agilidade.
Temos uma excelente relação com o Ministério Público e o Judiciário, o que colabora muito com a celeridade das medidas protetivas e com o andamento dos processos.


Jornal AGORA: Que orientações a senhora daria para que a população saiba identificar sinais de abuso infantil, violência doméstica ou risco à integridade de crianças e mulheres?


Delegada Danielle: Essa é uma pergunta bem ampla, né? Porque, na verdade, os sinais de abuso infantil existem, sim. Trata-se de uma violência silenciosa, mas que costuma deixar marcas e rastros — como toda forma de violência. Por isso, é muito importante estar atento aos sinais.
Mudanças de comportamento, lesões físicas, comportamentos mais retraídos ou agressivos podem ser indícios. No caso das crianças, acredito que muitas vezes esses sinais são até mais visíveis, pois elas são mais transparentes. É fundamental ensinar que não se deve guardar segredos e que é importante compartilhar tudo com adultos de confiança.
No caso da violência doméstica, muitas mulheres ainda não percebem que estão em um relacionamento abusivo. Infelizmente, leva um tempo até que se conscientizem da situação que estão vivendo. Por isso, é essencial promover educação e esclarecimento constante — seja por meio do rádio, podcasts, programas de TV ou jornais.
A informação salva vidas. Quanto mais falarmos sobre isso, mais ajudamos mulheres e crianças a reconhecerem os sinais e tomarem decisões com segurança.


Jornal AGORA:  Além dos crimes contra a mulher e o combate ao abuso infantil, quais outras frentes têm sido prioridade para a delegacia de Além Paraíba neste ano? Houve aumento de algum tipo de crime específico?


Delegada Danielle: A Delegacia de Polícia de Além Paraíba conta com uma divisão interna de trabalho para melhor atender a população. Aqui atuamos em conjunto — eu e o Dr. Thiago Carvalho Couri, delegado que trabalha comigo na unidade. O Dr. Thiago é responsável pelas investigações relacionadas ao tráfico de drogas, homicídios, roubos e outros crimes ligados à criminalidade em geral.
Já eu fico encarregada das ocorrências que envolvem crimes sexuais, abusos, violência contra mulheres, idosos, adolescentes e jovens, bem como dos procedimentos de menor potencial ofensivo, termos circunstanciados e casos que envolvem menores de idade.
Essa divisão de atribuições é essencial para que possamos atender de forma mais eficaz e especializada. Infelizmente, os índices de violência têm aumentado em diversos lugares, e em Além Paraíba não é diferente. A cidade, por sua localização geográfica, acaba sendo rota de trânsito e, consequentemente, registrando um número expressivo de ocorrências relacionadas ao tráfico e outros crimes. Por isso, a atuação da Polícia Civil tem sido constante e firme no combate a essas práticas criminosas.


Jornal AGORA:  Para finalizar, que mensagem a senhora deixaria para nossos leitores e seguidores, especialmente neste Maio Laranja, sobre a importância da denúncia e do envolvimento de toda a sociedade na proteção dos mais vulneráveis?

Delegada Danielle:
O que eu tenho para dizer sobre esse tema é que ele é de extrema importância. Precisamos, sim, de uma sociedade forte, consciente e esclarecida. Sempre digo que conhecimento é poder. É fundamental que os pais saibam o que os filhos estão fazendo, para onde estão indo, com quem estão andando e o que estão consumindo nas redes sociais.
Manter um relacionamento próximo dentro de casa é essencial. Os pais precisam acreditar no que seus filhos revelam, dar atenção e escuta ativa. Também é muito importante que esse ambiente de acolhimento e confiança se estenda às escolas.
A violência, especialmente contra crianças e adolescentes, sempre deixa sinais. Por isso, é crucial estar atento a esses sinais e tomar providências. Quando houver suspeita ou confirmação de abuso, é necessário denunciar.
Existem diversos canais para isso:
• Disque 100 para denúncias envolvendo crianças e adolescentes;
• Disque 180 para casos de violência contra a mulher;
• Disque 190 para acionar a Polícia Militar em situações de emergência.
Também é possível registrar denúncias por meio da Delegacia Virtual, acionando a Polícia Civil, a Polícia Militar ou o Ministério Público.
O mais importante é não se calar. Tomar atitudes é fundamental para prevenir e combater esses crimes.


Jornal AGORA:  Na terça-feira, 27 de maio, após essa conversa com o Jornal AGORA, a senhora participou de uma reunião na Câmara Municipal. O que foi discutido nesse encontro e como a senhora avalia o envolvimento dos vereadores e da sociedade nesse projeto da Casa da Mulher ?

Delegada Danielle: Na terça-feira, 27 de maio, estivemos na Câmara Municipal de Além Paraíba para uma reunião muito importante sobre políticas públicas voltadas para as mulheres. Um dos temas discutidos foi justamente a Casa da Mulher — inclusive, foi levantada a dúvida se o espaço seria denominado como “Casa da Mulher” ou “Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher”. Mas, sinceramente, isso não é um problema. O mais importante é que a estrutura exista e funcione com acolhimento e respeito.

 A reunião contou com a presença dos vereadores, do prefeito, da primeira dama e secretária de assistência social, representantes da comunidade e também de diversos representantes do comércio local. Foi um encontro muito produtivo e necessário.

Inclusive, ficou definido que será realizada uma conferência, se não me engano, no dia 10 de julho — vou confirmar essa data direitinho. Alguns vereadores já apresentaram projetos voltados para a proteção e os direitos das mulheres, como a Débora, o Paulinho, o Lerinho e a Mônica da Motinha. Mas o mais importante é que, pelo que percebi, todos os vereadores, independentemente de partido ou posicionamento político, estão engajados nessa causa. O apoio tem sido unânime, e isso é muito positivo.

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